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 AMIZADE

– Lígia Guerra –

 

“Existe uma lenda oriental que conta a história de uma árvore que vivia completamente solitária no alto da montanha. Não tinha sido sempre assim. Em tempos passados a montanha estivera coberta de árvores maravilhosas, altas e esguias, que os lenhadores cortaram e venderam. Mas aquela árvore era torta, não podia será transformada em tábuas. Inútil para os seus propósitos, os lenhadores a deixaram lá. Depois vieram os caçadores das essências em busca de madeiras perfumadas. Mas a árvore torta, por não ter cheiro algum, foi desprezada e lá ficou. Por ser “inútil”, sobreviveu. Hoje ela está sozinha na montanha. Os viajantes se assentam sob a sua sombra e descansam.”

Uma amizade verdadeira é como aquela árvore. Nada precisa ser ofertado. Basta a presença do outro para que nos sintamos felizes. É no bailar dos sorrisos soltos e despretensiosos que surgem os mais belos momentos da existência. Na amizade existe apenas o perfume da alma. Qualquer pão com manteiga vira festividade. Qualquer notícia boba vira brinde. As dores encontram aconchego. A felicidade encontra festa pronta!

Na amizade suspendemos palavras e acolhemos olhares. Amizades são estrelas cadentes que atingem os corações das pessoas que se querem bem por nada e se amam por tudo. Muito obrigada por você existir!!!

 

PORQUE TODA MULHER TEM O SEU MOMENTO!!!

– Lígia Guerra –

 

A vida é composta de momentos. Momentos de aprender com o mundo de fora. Momentos de desaprender com o mundo de dentro. Momentos de calar a voz alheia e ouvir a sinfonia da própria alma.

Mas existe um momento que é muito especial. O momento da travessia! Aquele em que abandonamos as roupagens antigas e nos aventuramos na outra margem do rio da vida. Nesse instante parimos a nós mesmas. Renascemos. Assumimos as rédeas da própria existência. Deixamos de ser resposta. Passamos a ser pergunta. Questionamos. Ousamos.

Diante dessa transformação o destino se apaixona perdidamente por nós. É seduzido pela nossa inteligência, força e beleza. Encanta-se diante dos nossos cabelos cacheados que insistem em coreografar lindamente com o vento. Sente-se hipnotizado pelo nosso sorriso de sol e pelo nosso olhar de lua. Torna-se amante da nossa felicidade.

Então algo mágico acontece. Sentimos um poder incomum por ser quem somos, por habitar a nossa própria pele, sem modelos, padrões ou comparações. Apenas somos!Despedimo-nos da coadjuvante. Passamos a ser as estrelas do nosso próprio céu.

 

QUERO SER FOLHA

– Lígia Guerra –

 

Folha que não se orgulha de nada.
Folha que guarda história de tudo.
Folha de livro velho.
Folha de amor novo.
Folha que abraça momentos.
Folha em preto e branco. Folha colorida.
Folha que veste desenho.
Folha que beija fotografia.
Folha que voa horizonte.
Folha que seca lágrima.
Folha que acaricia poeta.
Folha que une mãos entre cartas.
Folha vazia que acolhe fantasia.
Folha que desenha beleza e poema.
Folha que canta baixinho.
Folha que faz rir alto.
Folha que mesmo morta é ninho de passarinho.
Folha que tem cheiro de tempo feliz.
Folha que sem pedir nada acaricia os pés do mundo.
Folha que se despede da vida sendo tapete pelo caminho.
Tão bom ser folha.
Tão bom sentir que a existência é sopro.
Tão bom saber-se linda no topo da árvore.
Tão bom saber-se linda no chão do mundo.
Ainda assim, folha.

 

O DIA EM QUE MORRI

– Lígia Guerra –

 

 

Estranho? Nem tanto. Se depois de ler esse texto você achar que ainda está vivo, ótimo! Caso contrário, é bom repensar se ainda existe algum sopro de vida aí dentro. Vou contar como tudo aconteceu.

A minha primeira parcela de morte aconteceu quando acreditei que existiam vidas mais importantes e preciosas do que a minha. O mais estranho é que eu chamava isso de humildade. Nunca pensei na possibilidade do auto abandono.

Morri mais um pouquinho no dia em que acreditei em vida ideal, estável, segura e confortável. Passei a não saber lidar com as mudanças. Elas me aterrorizavam.

Depois vieram outras mortes. Recordo-me que comecei a perder gotículas de vida diária, desde que passei a consultar os meus medos ao invés do meu coração. Daí em diante comecei a agonizar mais rápido e a ser possuída por uma sucessão de pequenas mortes.

Morri no dia em que meus lábios disseram, não. Enquanto o meu coração gritava, sim! Morri no dia em que abandonei um projeto pela metade por pura falta de disciplina. Morri no dia em que me entreguei à preguiça. No dia em que decidir ser ignorante, bulímica, cruel, egoísta e desumana comigo mesma. Você pensa que não decide essas coisas? Lamento. Decide sim! Sempre que você troca uma vida saudável por vícios, gulodice, sedentarismo, drogas e alienação intelectual, emocional, espiritual, cultural ou financeira, você está fazendo uma escolha entre viver e morrer.

Morri no dia em que decidi ficar em um relacionamento ruim, apenas para não ficar só. Mais tarde percebi que troquei afeto por comodismo e amor por amargura. Morri outra vez, no dia em que abri mão dos meus sonhos por um suposto amor. Confundi relacionamento com posse e ciúme com zelo.

Morri no dia em que acreditei na crítica de pessoas cruéis. A pior delas? Eu mesma. Morri no dia em que me tornei escrava das minhas indecisões. No dia em que prestei mais atenção às minhas rugas do que aos meus sorrisos. Morri no dia que invejei , fofoquei e difamei. Sequer percebi o quanto havia me tornado uma vampira da felicidade alheia. Morri no dia que acreditei que preço era mais importante do que valor. Morri no dia em que me tornei competitiva e fiquei cega para a beleza da singularidade humana.

Morri no dia em que troquei o hoje pelo amanhã. Quer saber o mais estranho? O amanhã não chegou. Ficou vazio… Sem história, música ou cor. Não morri de causas naturais. Fui assassinada todos os dias. As razões desses abandonos foram uma sucessão de desculpas e equívocos. Mas ainda assim foram decisões.

O mais irônico de tudo isso?
As pessoas que vivem bem não tem medo da morte real.
As que vivem mal é que padecem desse sofrimento, embora já estejam mortas. É dessas que me despeço.

Assinado,
A Coragem

 

 

 

Coreo(grafia) da Rotina: Como ela escreve o nosso enredo!

– Lígia Guerra –

 

Mais um dia se espreguiça… Acorda manhoso e nos chama para a conversa. Mas muitas vezes “despertamos” cansados. Já sabemos o que a rotina tem a nos dizer… O relógio cadenciará as horas no mesmo ritmo. O trânsito imporá a invisibilidade do céu. A calçada encantará mais do que o sol. Um desânimo indesejado insistirá em nos fazer companhia. Reviraremos o bolso, a mala, a escrivaninha, a casa… E não encontraremos nenhum dos nossos sonhos. Entediados, eles refugiaram-se em outro lugar.

Sim, os sonhos também cansam. Algumas vezes a culpa é nossa, acomodamo-nos… Em outras são as situações adversas da vida que nos obrigam a mudar a direção da bússola… Por vezes o tempo do vir a ser é totalmente diferente do nosso querer. Transitamos do outono para o inverno da alma. Hibernamos.

Até que em um certo dia a primavera bate à nossa porta. Feito a deusa Afrodite…Linda, estonteante, perfumada e arrebatadora, encanta-nos! O tempo é outro. A metamorfose da vida acontece. Sentimo-nos revigorados. É tempo de despertar. É momento de acontecer. Um encontro ou reencontro inesperado nos devolve a capacidade de amar. A promoção chega. O filho nasce. A viagem sai do rascunho. O projeto ganha nome. Redescobrimos a profissão. Voltamos a nos apaixonar pelo nosso espelho. As segundas-feiras parecem sextas. As férias deixam de ser a melhor parte do ano. Cantamos nos dias de chuva. Passamos a ter olhos de sol e sorriso de lua. Renascemos.

É verão. Nesse momento a compreensão acontece. As nossas existências também transitam entre estações. Como não havíamos percebido isso? Se nos tornarmos sábios deixaremos de comungar apenas com o sol do verão. Saberemos acolher genuinamente o que cada uma dessas fases tem a nos ofertar.

A coreografia aparentará ser a mesma, mas nós seremos outros. Não esperaremos mais a música certa para dançar ou a ocasião perfeita para comemorar. A existência será a grande festa! O improvável acontecerá.